Politiza

O direito de ir e vir sobre duas rodas

Marcelo Martins

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O trânsito está cada vez mais complicado. Não é preciso especialista algum para dizer isso. A convivência entre pedestres, motoristas e ciclistas está cada vez mais difícil. Nessa guerra travada por espaço nas ruas e avenidas, há quem esteja buscando alternativas de enfrentamento ao caos da mobilidade urbana. É nesse cenário que as bicicletas, ferramenta de locomoção idealizada ainda no século 19, surge como um contraponto ao conturbado direito de ir e vir.

O Politiza explica como um veículo tão vulnerável, como a bicicleta, tem seus pedais e correias ligados à engrenagem e ao guidão da política. Em meio a um ambiente hostil como o trânsito, as bicicletas estão, cada vez mais, consolidando-se como um meio de transporte. Para quem pedala, a bicicleta é ecologicamente correta, além de trazer benefícios à saúde. Já os condutores de veículos de quatro rodas veem as bicicletas como um estorvo. O que talvez caia no esquecimento é que o Código de Trânsito Brasileiro (CBT) traz, em seu texto, que os veículos de maior porte são responsáveis pela segurança dos de menor porte. 

Os ciclistas ganharam as ruas, mas elas ainda precisam ser adaptadas para receber esses veículos. Como as cidades ainda são pensadas para os carros, cabe aos gestores públicos e à classe política viabilizar meios e políticas públicas que transformem o trânsito em um ambiente de convívio mais humano e com civilidade. Enquanto as coisas não se pacificam, ainda impera a lei da selva, como destaca João Fortini Albano, professor de Transportes da UFRGS e doutor em Sistemas de Transporte:

_ No trânsito, vale a lei da selva. Há um comportamento e uma disputa onde o maior engole o menor.

Nesse contexto, Santa Maria dá os primeiros passos em busca de espaço aos ciclistas. No município, há, em quantidade ainda tímida, ciclovias na Avenida Roraima, que dá acesso à UFSM, na Avenida João Machado Soares, no bairro Camobi, e a mais recente, na Avenida Hélvio Basso. A prefeitura também acena com uma ciclovia no Parque Itaimbé, que passa por revitalização, e na Avenida Medianeira. E, nos últimos dias, a UFSM anunciou a abertura de licitação para a construção de 2,4 mil metros de ciclovia no campus da instituição. Em uma segunda etapa (sem data para licitação), o projeto prevê, por exemplo, a construção de bicicletários.

O geógrafo e especialista em mobilidade urbana Yuriê Baptista César atenta que apenas a construção de ciclovias não traz avanços à mobilidade:

_ A ciclovia por si só não resolve nada. No Brasil, é muito comum uma ciclovia que comece em um lugar e termine em outro sem, de fato, resolver nada. O cidadão que vai andar de bicicleta precisa de segurança, precisa ter um local para estacionar sua bicicleta, precisa que tenha iluminação pública. Também há outra questão: para se chegar à ciclovia, o sujeito precisa andar na rua ou na calçada. É preciso se arriscar.

A coordenadora do curso de Arquitetura e Urbanismo da Unifra, Anelis Flores, atenta que a viabilidade de ciclovias deve atentar a uma série de requisitos:

_ Ciclovia não é só sair pintando o asfalto. É preciso observar o convívio e a realidade do ciclista com o carro, com o pedestre. A implantação de uma ciclovia deve observar também o tempo do semáforo, o circuito e o trajeto a ser feito. Há todo um amplo e criterioso estudo técnico sobre o tema.

Enquanto as bicicletas e os ciclistas se arriscam em meio a ônibus, carros e motos, é preciso que os motoristas aprendam a conviver com essa nova realidade. João Fortini Albano, que é professor de Transportes da UFRGS e doutor em Sistemas de Transporte, enfatiza que a cultura do automóvel é algo muito forte no brasileiro:

_ O Brasil seguiu o modelo norte-americano de cultuar o automóvel. O carro é visto como afirmação, masculinidade, status. Já o ônibus ainda é considerado coisa de pobre. Hoje, felizmente, muitos jovens dão sinais claros de mudanças.

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